Jornal Folha de Salvador
Nas dobras do origami: beleza, disciplina e coordenação motora
Ter, 09 de Dezembro de 2008 20:43 Cícero Gonçalves
A palavra japonesa Ori, quando traduzida para o português, transforma-se no verbo dobrar; Kami significa papel. Quando unidas, formam Orikami, ou, em português, origami. A técnica de dobrar papéis com o objetivo de montar figuras resiste há séculos e quem pratica garante que é apaixonante.
O professor de arte Lazzaro Borges descobriu o origami quando recebeu uma ave japonesa chamada tsuru, feita de papel, como presente. “Ficou lá no meu quarto por bastante tempo, mas eu perdi” conta Lazzaro referindo-se à peça. “Anos depois eu fui a um congresso no Mato Grosso e nele estavam ministrando oficinas de origami, eu participei e não larguei mais”.
Quem observa as figuras chega até a duvidar que as obras sejam feitas sem uma tesourada sequer, mas sim dobrando o papel até que ele atinja o formato desejado. As peças podem formar desde uma camisa até um tsuru (pássaro), do tipo que conquistou Lazzaro.
De acordo com a artista plástica Daiane Troesch, para quem quer começar, nada de teoria. “Ensina-se as formas básicas com aulas práticas”. Ela garante que a produção melhora a qualidade de vida do praticante, “independente da idade. O origami ajuda na concentração, disciplina, coordenação motora, memória, aguça os sentidos (tato, visão) trabalha todo o cérebro”.
No início, o origami era utilizado em rituais religiosos e somente as mulheres produziam os exemplares, inserindo ervas aromáticas no interior da peça para fins medicinais. Atualmente, alguns praticantes ainda colocam essências de plantas em seus origamis, entretanto, não mais com finalidade curativa, apenas para garantir um aroma agradável ao produto final. Mas o misticismo não foi completamente abandonado, reza uma lenda japonesa que, quando uma pessoa se encontra hospitalizada deve-se atingir o número de mil origamis tsurus para que ela restabeleça a saúde.
Em 1945, quando a bomba atômica explodiu em Hiroshima, no Japão, foi iniciada a narrativa real de Sadako que envolve diretamente a lenda dos mil tsurus “É uma linda história que surge de um momento muito ruim”, diz Daiane.
Sadako Sassaki tinha dois anos de idade quando a bomba atômica explodiu em Hiroshima. A menina sobreviveu à devastação causada pela arma, mas, aos doze anos, começou a sentir os efeitos da radioatividade disseminada pela bomba, desenvolvendo câncer. Um dia, um amigo foi ao hospital, levou papéis coloridos, os dobrou até atingir a forma de um tsuru e contou a lenda à menina que dobrou 964 pássaros antes de morrer. Ela pretendia pedir que sua saúde fosse recuperada, mas quando a doença piorou, a garota decidiu apelar pela paz mundial. Os amigos de Sadako fizeram os origamis restantes e atingiram o número mil de tsurus.
Até hoje, no Dia da Paz (6 de agosto), pessoas do mundo inteiro enviam pássaros de papel parao Monumento da Paz das Crianças, localizado em Hiroshima, e idealizado por amigos deSadako.
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